Introdução

Pretende este blog voltar a unir continentes, pelos quais se encontram distribuidos amigos de longa data. Da China aos EUA, da Austrália à velha Europa, será com um olhar Lusitano que descreveremos os lugares e contaremos as histórias que fazem o nosso dia-a-dia, num mundo onde as diferenças jamais separam pessoas.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Estarão os pangeios cheios?- III

Abriu-se uma clareira no meio da multidão quando o espontâneo orador iniciou o seu discurso. Todos estranhavam o seu traje, a sua dicção irrepreensível, o seu tom formal; depressa, no entanto, a personagem foi explicada. Tratava-se do Mordomo Real que, dizendo-se preocupado com a inquietação do povo e com o desgostoso estado do monarca, subtraíra-se momentaneamente às suas funções, tendo vindo expor o que lhe parecia uma estratégia para conseguir uma reacção Real. A ideia era simples, afirmava. Os habitantes de PangeiaXXI talvez não o soubessem mas o Rei Sérgio devia parte das suas excelsas qualidades não apenas de estadista mas também humanas a um conhecido elixir de tonalidade dourada, ligeiramente gaseificado, cujo nome era bem indicativo da sua acção. Chamava-se Super. O uso de Super era de resto generalizado, mas no caso particular do Rei Sérgio a sua acção era extraordinária. O plano do Mordomo visava pois suspender o abastecimento de Super à Casa Real, com o objectivo de obrigar o Rei Sérgio a "sair da toca". Com o mesmo objectivo, e como último recurso para tentar a privação do monarca, o Mordomo propôs que se realizasse uma grande festa temática na praça defronte da Casa Real sete dias depois do início do boicote que começaria nessa noite. Seria, naturalmente, uma festa de Super. O plano foi bem recebido por todos e considerado democraticamente airoso. Os que tinham responsabilidades directas no seu êxito cumpriram-nas escrupulosamente; adiando entregas, não respondendo às tentativas de contacto da Casa Real, sugerindo calamidades nacionais e estrangeiras que supostamente afectavam a qualidade e distribuição do produto.
Os dias passaram-se e a semana completou-se. Do Rei Sérgio nem sombra. O povo preocupava-se. O Mordomo dele pouco soubera dizer aquando das rápidas visitas em que orientara o essencial dos preparativos para a festa. Chegou a noite e o povo todo de PangeiaXXI reuniu-se na grande praça. Comeu-se e sobretudo bebeu-se Super sob todas as suas variedades. O povo animava-se e tudo corria pelo melhor mas o objectivo do plano não parecia atingível; na Casa Real as portas e janelas apresentavam-se desoladoramente fechadas. Já todos lamentavam a recusa Real, defendendo no entanto que a ideia da festa tinha sido muito boa e que talvez se pudesse repetir, quando no lugar à mesa até então ocupado pelo Mordomo, e como que numa transformação mágica, surgia o Rei Sérgio. Por entre os imediatos e efusivos exultos o povo compreendeu que o Mordomo era o Rei Sérgio, e que fora obra dele a estratégia de aproximação. Surpresos uma vez mais pela delicada habilidade social do seu governante e comovidos pela beleza do gesto Real o bom povo de Pangeia XXI ria e chorava de felicidade com o seu monarca. Quando a altas horas da manhã o sol se levantava em PangeiaXXI o sol levantava-se de facto em PangeiaXXI. As palavras fluíam com naturalidade, como o espirituoso elixir fluíra naquela noite. Por sábia decisão Real, daí em diante, o precioso elixir foi elevado à categoria de produto de interesse nacional. E PangeiaXXI voltou a ser para o que fora destinada.

2 comentários:

Anónimo disse...

Onde há Super há esperança!

Bem haja a habilidade e condescendência do nosso bom Rei.

Anónimo disse...

Bravo postador!!

Estou mortinha por ler esse livro que nunca mais vê a luz do dia!!

Não queria ser anónima, enganei-me :S