Introdução

Pretende este blog voltar a unir continentes, pelos quais se encontram distribuidos amigos de longa data. Da China aos EUA, da Austrália à velha Europa, será com um olhar Lusitano que descreveremos os lugares e contaremos as histórias que fazem o nosso dia-a-dia, num mundo onde as diferenças jamais separam pessoas.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Associated Press: "China censura pangeiaxxi"

Alguns dos estimados leitores deste blog poderão, amiúde, pensar: "Estes gajos são idiotas?" E se a resposta é, claramente, "SIM", já o seu motivo não é aquele que faz levantar a questão.
É verdade que se pode ler no cabeçalho do Pangeia que "da China aos EUA, da Austrália à velha Europa, será com um olhar Lusitano que descreveremos os lugares ...", donde se subentende que deste blog fará parte alguém que se encontra, neste momento, na China. Contudo não se vislumbra, para além da supracitada, nenhuma outra referência ao país que inventou o fogo de artifício e uma forma de comunismo que faria Karl Marx engolir duas granadas. É, deveras, devido a tão inacreditável sistema político que não temos notícias da China. O pangeiaxxi deve ser por aquelas bandas considerado universalista demais e um atentado à segurança interna. Estamos censurados!
E a razão porque digo que não estamos a querer iludir o respeitado leitor é que temos a Xana em Xangai. E embora não consiga aceder ao blog, ainda vai conseguindo mandar uns emails que, talvez por estarem escritos em português, escapam ao lápis azul oriental. O que se segue é o email que acabei de receber da Xana, sem qualquer alteração. Por motivos de força maior, vai com o meu nome:


Caros amigos,
Olá! Sei que há séculos que não escrevo. Mil desculpas. Não tenho nada contra vocês… tenho é muito trabalho e cansaço ao fim do dia, e para dizer a verdade, não tenho tido novidades para contar. Agora que algo de diferente aconteceu e que tive de ficar em casa por causa de uma faringite, resolvi, finalmente, escrever-vos.
Na cidade das inaugurações de exposições de pintura, aconteceu, finalmente, um evento de moda (para além das feiras de moda, claro está). José Chan, designer de moda com coração brasileiro mas raízes chinesas e moçambicanas, apresentou o seu olhar sobre a cultura chinesa perante o uso da bicicleta.
A roda da bicicleta, que gira em torno da vida e que muda a vida foi o tema da colecção que apresentou no Shanghai Studio, galeria de arte e bar, no passado 12 de Abril. A colecção de Primavera / Verão, de 6 coordenados masculinos e 6 femininos exibia uma paleta de cores fresca, positiva e leve, numa abordagem optimista e esperançosa perante a luta diária da classe pobre chinesa controlada pelo comunismo, representada por fatos pretos. Os fatos tinham por base a forma do círculo, reinterpretada.
Na performance, os manequins de nacionalidade brasileira dançavam ao som da música do seu país, cantada ao vivo por uma cantora de Bossa Nova (adivinhem quem…). A plateia que assistiu ao desfile era constituída por designers, marketeers, artistas plásticos e críticos de arte. O impacto foi bastante positivo, o público colaborou com os manequins, dançou também e disse que o desfile tinha sido impressionante.
Para dizer a verdade, a abordagem da colecção foi surpreendente, pois para quem vive em Shanghai há alguns meses, o impacto positivo que a cidade nos dá no início pela sua grandiosidade e pluralidade é difícil de se manter, após a constatação da realidade dura da vida dos chineses em contraste com a dos ocidentais. No fundo, a abordagem de Chan foca-se na esperança dos chineses e não na visão crítica dos ocidentais sobre o seu quotidiano.
Para além desta novidade, a única coisa interessante foi a minha viagem a Xi’an para ver os guerreiros de terracota (impressionante, de tirar a respiração, indescritível). Para além dessa viagem, fiz duas viagens pela China em trabalho; voei para duas cidades para promover a nossa escola, mais precisamente, o curso de design de moda. Foi um pouco assustador ver o que aqui chamam de escolas secundárias: instalações sem as mínimas condições, sem aquecedores, casas de banho sem água, janelas de vidros partidos, cadeiras de plástico… enfim. Até me perguntei por que motivo me tinha deslocado a tais sítios, sendo que a nossa escola é para chineses ricos…
Em relação às aulas, tudo bem. Até agora já leccionei 6 disciplinas diferentes, porque os professores são também máquinas J. Os alunos são ricos e mimados e vão para casa de BMW descapotável, têm a última versão do Hi-Pod e o Mac Book Air (a professora vai para casa numa bicicleta). É preciso contar até 20 para não os fazer perder a face, pois são muito sensíveis… e preguiçosos. Mas a culpa é do professor, claro está, que não lhes dá trabalhos interessantes para fazer (entenda-se por interessantes os trabalhos da escola primária, pois o ideal são trabalhos inspirados na Hello Kitty e nos desenhos animados japoneses – o “cute” é a palavra de ordem). Sou tão mazinha… Bem, mas a verdade é que alguns também têm talento, há que admitir.
Ah, a minha próxima viagem será a Beijing, em Maio… que bom! Por falar em viagens, espero também visitas! A minha tia vem daqui a uma semana e a Liliana, Pedro e Ei Ei vêm também cá, logo a seguir. E vocês?
Em relação a amigos aqui, tenho-me "cingido" aos colegas de trabalho e a uma amiga chinesa que fala um pouco de inglês e que trabalha numa loja de roupa (claro!). Quanto à Peggy, não temos mantido contacto, tenho de ver se nos encontramos um dia destes.
Em relação a vocês, espero que estejam mesmo todos bem. Gostava de saber também como é que vocês estão. Agora que já tenho Internet em casa, é mais fácil para mim responder aos vossos e-mails, já que no escritório era difícil, com os tais 4 computadores disponíveis.
Mil beijinhos!!!! Saudades…
Xana



P.S.: Era minha intenção publicar as fotos que recebi, mas o blogger não me quer deixar... Tentarei mais tarde. Pode ser que seja uma daquelas coisas...

Poema de Marcial

Estejamos onde estivermos no mundo continua a fazer sentido:

Se és pobre, serás sempre pobre, Emiliano.
hoje as riquezas vão para os que já as têm.


Marcial
40 - ? d.C.
traduzido por Alberto Pimenta

Maravilhas da técnica



Lembram-se de uma foto que tirei em Charlotte ao Bank of America? Acabei de tirar outra, muito parecida, mas usando a nova versão do google earth. Como dizia a outra, ele há cada uma que parece duas!!!

terça-feira, 15 de abril de 2008

Dados recolhidos pelo INE junto de 17,4 pessoas.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Estarão os pangeios cheios?- III

Abriu-se uma clareira no meio da multidão quando o espontâneo orador iniciou o seu discurso. Todos estranhavam o seu traje, a sua dicção irrepreensível, o seu tom formal; depressa, no entanto, a personagem foi explicada. Tratava-se do Mordomo Real que, dizendo-se preocupado com a inquietação do povo e com o desgostoso estado do monarca, subtraíra-se momentaneamente às suas funções, tendo vindo expor o que lhe parecia uma estratégia para conseguir uma reacção Real. A ideia era simples, afirmava. Os habitantes de PangeiaXXI talvez não o soubessem mas o Rei Sérgio devia parte das suas excelsas qualidades não apenas de estadista mas também humanas a um conhecido elixir de tonalidade dourada, ligeiramente gaseificado, cujo nome era bem indicativo da sua acção. Chamava-se Super. O uso de Super era de resto generalizado, mas no caso particular do Rei Sérgio a sua acção era extraordinária. O plano do Mordomo visava pois suspender o abastecimento de Super à Casa Real, com o objectivo de obrigar o Rei Sérgio a "sair da toca". Com o mesmo objectivo, e como último recurso para tentar a privação do monarca, o Mordomo propôs que se realizasse uma grande festa temática na praça defronte da Casa Real sete dias depois do início do boicote que começaria nessa noite. Seria, naturalmente, uma festa de Super. O plano foi bem recebido por todos e considerado democraticamente airoso. Os que tinham responsabilidades directas no seu êxito cumpriram-nas escrupulosamente; adiando entregas, não respondendo às tentativas de contacto da Casa Real, sugerindo calamidades nacionais e estrangeiras que supostamente afectavam a qualidade e distribuição do produto.
Os dias passaram-se e a semana completou-se. Do Rei Sérgio nem sombra. O povo preocupava-se. O Mordomo dele pouco soubera dizer aquando das rápidas visitas em que orientara o essencial dos preparativos para a festa. Chegou a noite e o povo todo de PangeiaXXI reuniu-se na grande praça. Comeu-se e sobretudo bebeu-se Super sob todas as suas variedades. O povo animava-se e tudo corria pelo melhor mas o objectivo do plano não parecia atingível; na Casa Real as portas e janelas apresentavam-se desoladoramente fechadas. Já todos lamentavam a recusa Real, defendendo no entanto que a ideia da festa tinha sido muito boa e que talvez se pudesse repetir, quando no lugar à mesa até então ocupado pelo Mordomo, e como que numa transformação mágica, surgia o Rei Sérgio. Por entre os imediatos e efusivos exultos o povo compreendeu que o Mordomo era o Rei Sérgio, e que fora obra dele a estratégia de aproximação. Surpresos uma vez mais pela delicada habilidade social do seu governante e comovidos pela beleza do gesto Real o bom povo de Pangeia XXI ria e chorava de felicidade com o seu monarca. Quando a altas horas da manhã o sol se levantava em PangeiaXXI o sol levantava-se de facto em PangeiaXXI. As palavras fluíam com naturalidade, como o espirituoso elixir fluíra naquela noite. Por sábia decisão Real, daí em diante, o precioso elixir foi elevado à categoria de produto de interesse nacional. E PangeiaXXI voltou a ser para o que fora destinada.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Estarão os pangeios cheios?- II

Passou-se um dia e uma noite sem que o clamor do povo, reunido frente à Casa Real, obtivesse qualquer tipo de reacção. Às primeiras horas da manhã as vozes começavam a esmorecer e passado algum tempo um silêncio transparente como o límpido ar matinal de PangeiaXXI imperava. Depois, pouco a pouco, como se de um longo devaneio acordassem, as vozes ressurgiam, mas tornando-se individuais, cada uma descobrindo o seu tom próprio. Elaboravam-se dúvidas, teciam-se juízos, procuravam-se soluções, opinava-se descabidamente; as vozes atropelavam-se. A turba insone mexia-se em múltiplas direcções, de modo descoordenado, submersa num inédito sentimento colectivo de irracionalidade Foi então que alguém sugeriu que se consultasse o mais reputado adivinho de PangeiaXXI, ele decerto saberia interpretar o silêncio do Rei Sérgio. A desilusão não poderia ter sido maior. O adivinho deu-lhes a resposta de um sábio. Disse-lhes que se num sistema totalitário se pode exercer a censura numa sociedade aberta não se pode forçar o discurso de ninguém, governante ou governado. Desconfiada do que lhe fora dito, como um grande cardume à procura de alimento num oceano de incerteza, a multidão procurou um constitucionalista, com o intuito de tentar obrigar legalmente o Rei Sérgio ao que julgavam ser as suas obrigações elocutórias. Este não os conseguiu ajudar no que pretendiam já que no essencial concordava com o adivinho, e afirmou que segundo a constituição de PangeiaXXI as incumbências de representatividade do Rei Sérgio eram muito escassas, o que tornaria muito difícil obrigá-lo ao que quer que fosse. O bom povo sofria com a ausência do seu monarca. No meio do sofrimento colectivo vozes mais radicais falavam na possibilidade de destituição. Preparava-se seguramente o cenário para um levantamento geral quando um braço no meio da multidão nervosa se ergueu, pedindo que o escutassem. Alguém parecia ter um plano.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Estarão os pangeios cheios?

Pode-se dizer que PangeiaXXI é uma terra prometida. Nela tudo são aberturas e possibilidades, o sol nasce para todos e para todos se põe, ainda que não do mesmo modo nem à mesma hora. O Deus que a criou fê-la com o propósito de ser próspera e fértil em todos os âmbitos, e para tal dotou-a de um povo bom, ainda que algo inconstante. Perseguindo o mesmo propósito dotou ainda o mesmo Deus o mesmo povo com um Rei bom e justo, de entre todos os homens o maior defensor da paz. PangeiaXXI é assim por excelência uma terra de diálogo e partilha de horizontes em constante renovação. O Rei Sérgio sempre conseguiu fazer vir à tona o melhor nos seus fiéis súbditos, qual experimentado alquimista na difícil arte da depuração.
Apesar de todo este ambiente propício ao idílio, indo contra todas as probabilidades, não é que um dia o fantasma do silêncio, qual grande nuvem que sinistramente encobre o mais promissor sol primaveril, se abate sobre PangeiaXXI? O Rei Sérgio não conseguindo compreender a situação, já que a mera possibilidade dos pangeios estarem cheios (de PangeiaXXI) vai contra toda a concepção racional do universo e do sentido das coisas, é tomado de uma inquietação cada vez mais recorrente, e sendo ele a mais perfeita imagem da liberdade, apanágio supremo de PangeiaXXI, respeitando talvez a vontade dos seu súbditos, condena-se a si próprio ao silêncio. Depois de dias e dias de silêncio Real, o bom povo, então estranhamente embrutecido, sente-se agora desamparado; é então que num movimento espontâneo de comoção colectiva o povo sai para a rua, dirigindo-se ao seu amado governante com as seguintes uníssonas palavras nos lábios: Bom Rei, volta, de novo, para o teu Bom Povo!